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terça-feira, 18 de agosto de 2009

Toxoplasma gondii


Toxoplasma gondii

Histórico e classificação taxonômica (reino, filo, classe, família)

O Toxoplasma gondii (Nicolle e Manceaux, 1909) é um protozoário com distribuição geográfica mundial, com prevalência bastante alta: cerca de 40% ou mais de uma população pode apresentar sorologia positiva. Deve-se esclarecer, entretanto, que a grande maioria é apenas uma infecção assintomática, raras vezes ocorrendo doença. Nos casos de doença pode haver alterações graves, tais como cegueira, aborto, retardamento mental da criança, etc; o que justifica o seu estudo. O gato é hospedeiro definitivo, sendo o homem, os mamíferos em geral e as aves os hospedeiros intermediários ou incompletos.

Classificação taxonômica: Reino: Protozoa, Filo: Apicomplexa, Classe: Sporozoea, Família: Sarcocystidae.

Formas evolutivas infectantes

As formas evolutivas infectantes são: taquizoítos, cistos e oocistos

Mecanismos de infecção

A infecção pelo Toxoplasma gondii constitui uma das zoonoses mais difundida no mundo. A variação da prevalência parece ser devida a fatores geográficos, climáticos, hábitos alimentares, tipo de trabalho etc., indicando que os mecanismos de transmissão deve ocorrer através de várias formas do parasito: oocisto em fezes de gato jovem infectado, ingestão de cistos presentes em carnes, ingestão de taquizoítos encontrados no leite, na saliva através de lambedura ou perdigotos, no esperma e congenitamente. O homem adquire a infecção por três vias principais e uma quarta via menos freqüente:

1. Ingestão de oocistos presentes em jardins, caixas de areia. Latas de lixo ou disseminados mecanicamente por moscas, baratas, minhocas, etc.

2. Ingestão de cistos encontrados em carne crua ou mal cozida, especialmente do porco e do carneiro. Os cistos resistem por semanas ao frio, mas o congelamento a 0ºC ou o aquecimento acima de 60ºC os mata.

3. Congênita ou transplacentária: cerca de 40% dos fetos podem adquirir Toxoplasma gondii durante a gravidez, estando a gestante na fase aguda da doença ou se houver a reativação de cistos da fase crônica da doença. As mulheres que apresentam sorologia positiva antes da gravidez têm menos chance de infectar seus fetos do que aquelas que apresentarem a primoinfecção durante a gestação.

4. Ingestão de taquizoítos em leite contaminado ou de saliva, inalação de taquizoítos por lambedura ou perdigotos, deposição de taquizoítos na mucosa vaginal junto com esperma, acidente de laboratório, etc.

As manifestações da toxoplasmose podem ser bastante variadas. Entretanto, a transmissão congênita é a mais grave. As vias de infecção para o feto mais prováveis são: Transplacentária: quando a gestante adquire a toxoplasmose durante a gravidez (entre o segundo mês até o fim da gestação) e apresentando a fase aguda da doença, poderá transmitir Toxoplasma gondii ao feto, tendo provavelmente os taquizoítos como formas responsáveis; Rompimento de cistos no endométrio: apesar da gestante apresentar a doença na fase crônica, alguns cistos localizados no endométrio poderiam romper-se (distensão mecânica ou ação lítica das vilosidades coriônicas da placenta), liberando os bradizoítos que penetrariam no feto. Taquizoítos livres no líquido amniótico: os taquizoítos presentes no líquido amniótico atingiriam o feto. A transmissão congênita ocorre normalmente na fase aguda da doença, ou no caso de Ter havido uma reagudização da doença crônica durante a gravidez.


Ciclo de vida resumido: no homem e no felídeo

O ciclo de vida do Toxoplasma gondii se passa em duas fases distintas: a fase assexuada (nos tecidos de vários hospedeiros, inclusive do gato), e a fase sexuada (no epitélio intestinal de gatos jovens e outros felídeos não imunes). Na fase assexuada, um hospedeiro suscetível (homem, por exemplo) ingeri oocistos ou entra em contato com taquizoítos eliminados na urina, leite, esperma, perdigotos, etc., ou, ainda bradizoítos ou taquizoítos encontrados na carne crua, poderá adquirir o parasito e desenvolver a fase assexuada. As formas que chegarem ao estômago serão destruídas, mas as que penetrarem na mucosa oral ou forem inaladas poderão evoluir, cada esporozoíto ou taquizoíto entrará numa célula e se reproduzirá intensamente (fase proliferativa); romperá a célula, liberando novos taquizoítos, que invadirão novas células. Essa disseminação do parasito no organismo se dá por taquizoítos livres na linfa, no sangue circulando ou, mesmo, por taquizoítos parasitando leucócitos.

Já o ciclo sexuado ocorre somente no epitélio intestinal de gatos ou outro felídeo jovem. São, por isso, considerados hospedeiros definitivos. Assim, um gato jovem e não imune, se infectando oralmente por oocistos, cistos ou taquizoítos, desenvolverá o ciclo sexuado em seu epitélio intestinal. O tempo decorrido dessa infecção até o aparecimento de novos oocistos em suas fezes (período pré-patente) dependerá da forma ingerida. Este período será de 3 a 5 dias, quando a infecção ocorrer por cistos; 5 a 10 por taquizoítos, e 20 a 24 dias para oocistos.

Os esporozoítos ou taquizoítos, ao penetrarem no epitélio intestinal do gato, por um processo de esquizogonia, darão origem a vários merozoítos que, por sua vez, se transformarão em gametas (gametogonia). O macrogameta permanecerá dentro de uma célula epitelial, enquanto que o microgameta sairá de sua célula e irá fecundar o macrogameta, formando o ovo ou zigoto. Esse evoluirá dentro do epitélio, dando origem ao oocisto; depois, a célula epitelial, em alguns dias, se rompe, liberando o oocisto imaturo. Essa forma, através das fezes, alcançará o meio externo e, após um período de cerca de quatro dias, ficará maduro, isto é, apresentará 2 esporocistos e cada um contendo 4 esporozoítos. O gato jovem é capaz de eliminar oocistos durante um mês, aproximadamente, não o fazendo mais depois disto.


Sintomatologia no homem: fase aguda e fase crônica

Em muitos casos, os sintomas da toxoplasmose podem não se manifestar ou serem confundidos com os de uma gripe e a pessoa nem fica sabendo que se infectou. Em outros, os sintomas incluem febre diária, gânglios intumescidos e espalhados pelo corpo, mas a doença regride em algumas semanas, embora possa voltar se houver queda de resistência porque o Toxoplasma gondii não é eliminado do organismo.
No entanto, se a imunidade estiver realmente comprometida, como ocorre nos pacientes com AIDS, por exemplo, há um tipo grave de toxoplasmose, a neurotoxoplasmose, que pode ser fatal se não for diagnosticada e tratada adequada e precocemente.

A toxoplasmose crônica provoca retinocoroidite severa; fraqueza muscular, perda de peso, cefaléia e diarréia podem estar presentes. Os sintomas são vagos e indefinidos, e o diagnóstico é difícil.

Complicações clínicas para o feto

Quando a mulher adquire a infecção durante a gestação, a doença pode ser transmitida ao feto. Infecções maternas primárias ocorridas no primeiro trimestre de gestação normalmente induzem ao aborto. A severidade da contaminação fetal é maior quando a infecção materna é adquirida no segundo trimestre, podendo provocar mal-formações congênitas. Quando a infecção pelo protozoário ocorre no terceiro trimestre de gestação, o feto pode ser contaminado, apresentando graus variados de manifestações clínicas que incluem, principalmente, problemas neurológicos (retardo mental e motor) e visuais (lesão da retina à cegueira). A doença costuma ser assintomática ao nascimento, podendo apresentar sintomas clínicos após alguns meses.

Diagnóstico parasitológico e imunológico: gato, homem e feto

Pode ser clinico ou laboratorial. O diagnóstico clínico não é fácil de ser feito, pois os casos agudos podem levar a morte ou evoluir para a forma crônica. Esta pode manifestar-se assintomaticamente ou então assemelhar-se a outras doenças (mononucleose). Portanto, o diagnóstico laboratorial é que poderá confirmar a suspeita clínica.

Demonstração do parasito, em geral é conseguido durante a fase aguda em exsudatos, líquor, leite, sangue, etc. Nestes casos a forma encontrada é o taquizoíto, melhor evidenciado após a centrifugação. Pode-se também fazer a biópsia de gânglios enfartados. Esses métodos não são usados na rotina, mas muitas vezes há necessidade de empregá-los. Após obtenção do parasito, faz-se um esfregaço do material centrifugado e cora-se pelo Giemsa; com o material da biópsia, faz-se cortes histológicos, corados pela hematoxilina-eosina. Pode-se também fazer inoculação intraperitoneal ou intracerebral do material obtido na centrifugação ou na biópsia em camundongos albinos jovens.

Teste sorológicos ou imunológicos, como vimos, a demonstração do parasito não é fácil de ser feita. Assim sendo, na rotina, o diagnóstico é baseado em testes imunológicos que indicam o nível do título (diluição do soro sanguíneo) de anticorpos circulantes correspondentes à fase da doença. Os testes imunológicos mais usados são:

- Teste do corante ou Reação de Sabin Feldman (RSF): é um excelente método para diagnóstico individual na fase aguda ou crônica e ainda para levantamentos epidemiológicos. É muito sensível, indicando anticorpos no soro diluído até 1:16.000. Só se negativa alguns anos após a cura do paciente. É especifica e não cruza com outras doenças. Atualmente esse método está em desuso em vista da necessidade de se manter o toxoplasma vivo (em camundongo) para preparar os antígenos, bem como pela maior sensibilidade de outras reações, em especial a imunofluorescência.

- Reação intradérmica ou toxoplasmamina: é um método bastante utilizado para levantamentos epidemiológicos. Não é utilizada para diagnóstico individual, a não ser para confirmação de toxoplasmose ocular.

- Reação Fixação do Complemento (RFC’): é uma reação que apresenta maior sensibilidade na fase crônica da doença. É bastante específica, sendo que na fase aguda sua sensibilidade é menor. Negativa-se rapidamente após a cura. É pouco utilizada na prática, devido a dificuldade de preparo de antígenos padronizados.

- Reação de Imunofluorescência indireta (RIF): é o melhor, mais sensível e mais seguro dos métodos de diagnóstico, podendo ser usado tanto na fase aguda como na fase crônica da toxoplasmose. O antígeno usado são esfregaços em lâmina de toxoplasmas formolizados. Após 8-10 dias de inicio da infecção humana o anticorpo já é detectável, cujo título de 1:1.000 já indica toxoplasmose aguda. Títulos baixos, persistentes, entre 1:10 e 1:500 indicam infecção crônica. A sensibilidade do método chega a acusar positivamente em títulos 1:16.000. Pessoas que receberam transfusão de sangue podem apresentar títulos positivos para a toxoplasmose, indicando erroneamente uma infecção.

- Hemaglutinação (HA): excelente método de diagnóstico, devido a sua alta sensibilidade e simplicidade de execução. Não funciona, entretanto, para o diagnóstico precoce.

Dos métodos citados, o mais usado é a RIF. Há certa controvérsia na interpretação dos resultados, mas aconselha-se jogar o título da reação com o caso clínico, apesar dessa afirmação não poder “ser tomada literalmente, uma vez que títulos elevados podem não estar acompanhados de qualquer manifestação clínica patológica” (Sessa, 1977).

Na toxoplasmose congênita, o método de escolha é a pesquisa de anticorpos do tipo IgM no soro do recém-nascido. Esse anticorpo é uma macroglobulina, sendo, portanto, incapaz de atravessar a placenta materna. Os anticorpos tipo IgG, detectáveis pela RSF ou pela RIF, são capazes de atravessar passivamente a placenta de uma mãe com sorologia positiva. Para comprovar se há infecção no recém-nascido utilizando aquelas reações (RSF ou RIF), os recurso usados são: título de recém-nascido ser maior que o da mãe em duas diluições; elevação do título do recém-nascido em verificações sucessivas; persistência da reação positiva, até depois de 5 meses, no lactente, pois sabe-se que quando há transferência passiva apenas de anticorpos da mãe para o filho, no lactente o título dos anticorpos cairá 10 diluições a cada 90 dias.

A toxoplasmose no adulto, deve-se fazer algumas reações, intervaladas de duas a três semanas, verificando-se as modificações dos títulos das reações. Recomenda-se usar dois métodos, preferentemente a RIF e a RSF. Nos casos de uma ascensão constante, indica doença. Em gestantes, é freqüente uma ligeira elevação do título sem haver doença; quando essa elevação for quatro vezes maior que a dosagem anterior, há indicação de toxoplasmose ativa. Alguns autores suspeitam de toxoplasmose doença quando ocorrem os seguintes títulos: 1:256 pelos métodos de RSF e HA; 1:8 na RFC. Os títulos mais elevados nessas reações são: 1:16.000 na HA e 1:256 na RFC’.

Medidas profiláticas

“Vivendo o homem num mar de toxoplasma” é difícil fazer-se uma profilaxia, mas, baseados na epidemiologia, podemos inferir algumas medidas profiláticas: não se alimentar de leite ou carne crua; combater gatos e ratos; as pessoas que insistem em criar gatos, os mesmos devem ser mantidos dentro de casa e alimentados com carne cozida ou seca; incinerar todas as fezes dos gatos; proteger as caixas de areia, para que os gatos lá não defequem; exame de toda gestante com enfartamento ganglionar ou que tenha história de abortos.

domingo, 16 de agosto de 2009

Entamoeba histolytica


Histórico
A freqüência com que esse parasito é encontrado no organismo humano, e sua semelhança com vários amebídeos que vivem no homem, no animal ou meio ambiente, justificam os estudos pormenorizados que têm sido feitos. Aspectos de sua taxonomia, biologia, patogenia e epidemiologia ainda não estão de todos esclarecidos. Com o advento de novas técnicas de estudos, é provável que em futuro próximo se possa conhecer detalhadamente esse protozoário tão importante na nosologia humana.
Nas superclasse Sarcodina encontramos a ordem Amoebida, na qual encontramos a família Endamoebidae, que apresenta as amebas de interesse médico. Essa família tem como espécie tipo a Endamoeba blattae, que é uma ameba comum de baratas, mas não ocorre no homem. A grafia do gênero com a letra d deu origem à denominação da família, as espécies que nos interessam pertencem ao gênero Entamoeba, escrito com t.
Na família Endamoebidae encontramos várias espécies que podem ser encontradas no intestino grosso de vários animais (inclusive do homem) e espécies de vida livre. As especes encontradas no homem são:
- Entamoeba histolytica Schaudinn, 1903- parasita o intestino grosso do homem;
- Entamoeba hartmanni Von Prowazek, 1912- vive (comensal) na luz do intestino grosso do homem;
- Entamoeba coli (Grassi, 1879)- vive (comensal) na luz do intestino grosso do homem;
- Entamoeba gingivalis (Gross, 1849)- vive (comensal) nas gengivas e no tártaro dentário do homem, cão e macaco.
- Endolimax nana (Wenyon & O’Connor, 1917)- vive (comensal) na luz do intestino grosso do homem.
As espécies de ameba pertencentes ao gênero Entamoeba foram reunidas em grupos diferentes, segundo a estrutura dos trofozoítos e principalmente, o número de núcleos dos cistos.
Assim temos:
- grupo histolytica: amebas apresentando cistos com 4 núcleos: E. histolytica (homem); E. hartmanni (homem); E. invadens (serpentes); E. ranarum (sapos); E. terrapinae (tartarugas); E. philippinensis (peixe); E. aulastomi (sanguessugas); E. pyrrhogaster (salamandra); E. knowlesi (tartarugas) e E. moskovskii (de vida livre-esgoto).
- grupo coli: amebas apresentando cistos com 8 núcleos: E. coli (homem).
- grupo poleck: amebas cujos cistos têm 1 núcleo: E. poleck ( é uma ameba comum de suínos, mas que pode ser encontrada no homem; não é patogênica ).
- grupo gingivalis: amebas que não têm cistos: E. gingivalis ( encontrada na cavidade bucal do homem, cão e macaco; não é patogênica).
Das espécies de amebas citadas, “somente uma, a E. histolytica, tem atividade patogênica no homem, embora em muitos casos possa habitar o organismo humano como comensal inofensivo” (Cunha, A.S.).

Classificação: Filo, Classe, Família, Gênero, Espécie.
Filo: Sarcomastigophora, Classe: Lobosae, Família: Endamoebidae, Gênero: Entamoeba, Espécie: Entamoeba histolytica.

Morfologia das formas evolutivas encontradas no ciclo do parasito
A Entamoeba histolytica apresenta-se sob duas formas fundamentais: o trofozoíto, e o cisto.
O trofozoíto mede cerca de 20 micra. Apresenta movimentos amebóides contínuos, não possuindo forma definida; entretanto, quando fixado e corado pela hematoxilina férrica, pode tomar a forma esférica. Possui as seguintes características:
- Citoplasma: dividido em ectoplasma (claro e uniforme) e endoplasma (granuloso e vacuolizado), às vezes com presença de hemácias.
- Núcleo: apresenta uma cromatina delicada, uniforme e fina, aderida à membrana nuclear, enquanto o cariossoma na maioria das vezes é pequeno e central.
O cisto apresenta-se nas fezes como pequenas esferas medindo cerca de 12 micra. A parede é dupla; nos cistos jovens, temos apenas 1 núcleo e 1 vacúolo de glicogênio volumoso que, quando corado pelo lugol, apresenta a cor castanha. O cisto maduro aparece com 4 núcleos e corpos cromatóides em forma de bastão, com ponta romba.

Habitat
Os trofozoítos são encontrados em colônia na luz do intestino grosso ou nas úlceras que provocam na mucosa do ceco, colo descendente e reto-sigmóide. Algumas vezes, podemos encontrá-los em lesões hepáticas (abscessos amebianos), pulmonares, cerebrais ou cutâneas.

Forma evolutiva infectante e principais mecanismos de infecção
A forma evolutiva infectante é o cisto maduro. E os mecanismos de infecção são através de ingestão de cistos maduros, juntamente com alimentos (sólidos ou líquidos). O uso de água sem tratamento, contaminada por dejetos humanos, é um modo freqüente de contaminação; ingestão de alimentos contaminados (verduras cruas, frutas) é importante veículo de cistos. Alimentos também podem ser contaminados por cistos veiculados nas patas de baratas e moscas (essas também são capazes de regurgitarem cistos anteriormente ingeridos). Além disso, falta de higiene domiciliar pode facilitar a disseminação de cistos dentro da família. Os “portadores assintomáticos” que manipulam alimentos são os principais disseminadores dessa protozoose.

Explicar o ciclo não-invasivo (não patogênico) e o invasivo (patogênico)
A E. histolytica, por sua vez, possui duas formas: uma, grande patogênica, invasora de tecidos, chamada “forma magna”, virulenta ou invasora; outra, pequena, encontrada na luz dos intestinos, chamada “forma minuta” avirulenta ou não invasora.
Essas expressões “forma magna” e “forma minuta” são muito controvertidas. Os pesquisadores mais modernos preferem denominá-las de “forma invasiva” para a ameba capaz de produzir as lesões intestinais e hepáticas e “forma não invasiva” para a E. histolytica encontrada na luz intestinal.
A “forma invasiva” apresenta trofozoítos medindo cerca de 32 micra de diâmetro e é dada quando os trofozoítos tornam-se patogênicos e invadem a parede intestinal, alimentando-se de células da mucosa e de hemácias. É encontrada dentro das úlceras intestinais, hepáticas, pulmonares, cerebrais ou cutâneas. Também são vistas em fezes diarréicas. Alguns autores afirmam que a “forma invasora” não é capaz de formar cistos. Entretanto, observações recentes sugerem que, durante a fase aguda da doença (disenteria mucosanguinolenta), realmente não há tempo para que haja a desidratação do protozoário e a formação de cistos, mas no período crônico, quando não há diarréia, formam-se cistos.
A “forma não invasiva” apresenta trofozoítos medindo cerca de 15 micra de diâmetro. É uma ameba muito ativa. É encontrada na luz intestinal. Essa “forma não invasora” é capaz de produzir cistos normalmente (uma vez que não causa disenteria). Caso seu portador apresente diarréia (devido a qualquer agente etiológico ou mesmo por ação de purgantes), os trofozoítos poderão ser encontrados em fezes liquefeitas.

Principais sintomas da amebíase na forma intestinal e extra-intestinal
Os sintomas das pessoas com amebíase vão desde a diarréia com cólicas e aumento dos sons intestinais até a diarréia mais intensa com perda de sangue nas fezes, febre e emagrecimento. Nestes casos ocorre invasão da parede do intestino grosso com inflamação mais intensa e os médicos chamam de colite. Podem ocorrer ulcerações no revestimento interno do intestino grosso, por esta razão o sangramento. Raramente a infecção causa perfuração do intestino, quando ocorre a manifestação é de doença abdominal grave com dor intensa, rigidez e aumento da sensibilidade da parede além de prostração extrema da pessoa afetada. A doença pode apresentar-se de forma mais branda com diarréia intermitente levando muitos anos até surgir um comprometimento do estado geral. Não muito comumente o protozoário pode penetrar na circulação e formar abscessos (coleções fechadas no interior de algum órgão ou estrutura do corpo) no fígado que causam dor e febre com calafrios. Estes abscessos podem romper-se para o interior do abdômen ou mesmo do tórax comprometendo as pleuras (camada que reveste os pulmões) ou o pericárdio (camada que reveste o coração). Também raramente podem formar-se tumorações no intestino que se denominam “amebomas”.
As situações de doença extra-intestinal ou invasiva são as que levam aos casos mais extremos que evoluem para a morte do indivíduo infectado.

Caracterize o tipo de diarréia provocada por esse parasito.

Diarréia é ácida, com grande quantidade de material fecal, pouco exsudato celular, mas com sangue em maior ou menor volume, apresentando as hemáceas degeneradas; encontra-se também cristais de Charcot-Leyden, poucas bactérias e amebas.

Principais medidas profiláticas.

Os alimentos mais freqüentemente contaminados são os vegetais cultivados junto ao solo. A higiene destes alimentos crus deve ser rigorosa com detergentes potentes seguido de imersão em solução de vinagre ou ácido acético por 10 a 15 minutos. A água somente após ser fervida fica totalmente livre destes protozoários. O tratamento adequado destes pacientes, ajuda a eliminar fontes de propagação da doença, principalmente na zona rural onde a água tratada não é sempre disponível. Os hábitos gerais de higiene como lavar as mãos após o uso do sanitário são medidas de educação que com certeza contribuem na prevenção. A fiscalização dos prestadores de serviços na área de alimentos pela vigilância sanitária é de suma importância.

Diagnóstico (parasitológico e imunológico) e tratamento.

O exame de fezes detecta o parasita com alguma facilidade, os métodos são as técnicas de sedimentação espontânea, técnica de sedimentação por centrifugação e o método direto. A forma mais invasiva depende do que os médicos chamam de exames de imagem (tomografia computadorizada, ecografia ou ressonância magnética). Algumas vezes para confirmação diagnóstica , além do exame de imagem os médicos usam agulhas finas para puncionar os abscessos. Nas formas mais invasivas, quando o diagnóstico não for possível por identificação do cisto utiliza-se exames de sangue para a detecção da presença de anticorpos contra o parasita. O diagnóstico imunológico da E. histolytica está sendo largamente estudado, apresentando resultados muito promissores. Os métodos que apresentam maior sensibilidade são: hemaglutinação indireta, imunofluorescência indireta e contraimunoeletroforese.

Apesar dos parasitos Endolimax nana, Entamoeba coli e Iodamoeba butschlii não provocarem alterações patogênicas no organismo humano sadio, o encontro dos mesmos deve constar em laudos dos parasitológicos de fezes. Por quê?
R- Pelo fato de quaisquer alterações orgânicas que porventura vier a afetar o indivíduo, essas amebas podem passar a ser patogênicas para o mesmo. E também, como é um laudo, é de suma importância expor os achados em microscopia para uma maior precisão do laudo.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Álcool e Tabaco


Álcool
O álcool é uma droga depressora do Sistema Nervoso Central. Para contrabalançar esse efeito, o usuário crônico aumenta a atividade de certos circuitos de neurônios que se opõem à ação depressiva. Quando a droga é suspensa abruptamente, depois de longo período de uso, esses circuitos estimulatórios não encontram mais a ação depressora para equilibrá-los e surge, então, a síndrome de hiperexcitabilidade característica da abstinência. Seus sintomas mais freqüentes são: tremores, distúrbios de percepção, convulsões e delirium tremens. Apesar de ser consumido especialmente pela sua ação estimulante, esta é apenas aparente e ocorre com doses moderadas, resultando da depressão de mecanismos controladores inibitórios. O córtex, que tem um papel integrador, sob o efeito do álcool é liberado desta função, resultando em pensamento desorganizado e confuso, bem como interrupção adequada do controle motor.
As recomendações atuais para tratamento do alcoolismo, envolvem duas etapas:

a) Desintoxicação - Geralmente realizada por alguns dias sob supervisão médica, permite combater os efeitos agudos da retirada do álcool. Dados os altíssimos índices de recaídas, no entanto, o alcoolismo não é doença a ser tratada exclusivamente no âmbito da medicina convencional.

b) Reabilitação - Alcoólicos anônimos - Depois de controlados os sintomas agudos da crise de abstinência, os pacientes devem ser encaminhados para programas de reabilitação, cujo objetivo é ajudá-los a viver sem álcool na circulação sangüínea.
Para que o tratamento tenha sucesso é fundamental a participação dos familiares e amigos próximos, como declararam, nas entrevistas gravadas para o Canal Universitário, o jornalista Ricardo Vespucci e o médico Emanuel Vespucci, autores dos livros "O revólver que sempre dispara" e "O livro das respostas: Alcoolismo" cuja leitura recomendamos a todos os interessados no tema. Dessas entrevistas participaram também um representante dos Alcoólicos Anônimos e duas mulheres da Al-Anon, associação dedicada a dar apoio e orientação aos familiares dos dependentes do álcool. Esses depoimentos foram fundamentais para entender a doença do alcoolismo e suas conseqüências.

Tabaco
Nicotina é um alcalóide (substância orgânica nitrogenada existente nas plantas e em alguns fungos), encontrado nas folhas do tabaco (Nicotiana tabacum), planta originária das Américas. Absorvida por via oral ou pulmonar, chega ao cérebro em segundos e depois, dissolvida no sangue, vai sendo excretada rapidamente. Quando os neurônios percebem que ela está escapando dos receptores, provocam um grau de ansiedade que só quem foi fumante sabe o que representa. É a crise de abstinência.
Entre as mais de 4.700 substâncias nocivas presentes no cigarro, a nicotina é a responsável pela dependência, que é maior do que a de drogas como a cocaína e a heroína. As primeiras tragadas que o indivíduo dá na vida, em geral, são acompanhadas de tontura, enjôo, mal-estar. Depois, trazem sensação de prazer fugidio e, em curto espaço de tempo, alterações de humor causadas pela privação da droga. Assim, cigarro após cigarro, o organismo do fumante e do não-fumante que convive no mesmo ambiente vai sendo minado e a saúde dos dois seriamente comprometida.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Anfetamina e Cocaína


Anfetamina
O sulfato racêmico de anfetamina (benzedrine) foi sintetizado pela primeira vez em 1888 e introduzido na prática clínica em 1932, como um inalante vendido sem prescrição médica para o tratamento de congestão nasal e asma. A produção e o uso legal e ilícito das anfetaminas aumentaram até os anos 70, quando uma variedade de fatores sociais e regulatórios começaram a inibir seu amplo uso. As anfetaminas são usadas também no tratamento da obesidade, embora sua eficácia e segurança para esta indicação sejam discutíveis.
Sintomas da intoxicação com anfetamina:
- Alterações comportamentais ou psicológicas (euforia, ansiedade, tensão, raiva, etc).
- Taquicardia;
- Dilatação das pupilas;
- Pressão sanguínea elevada ou baixa;
- Calafrios;
- Vômitos, náuseas;
- Perda de peso;
- Agitação ou retardo psicomotor, etc.
Tratamento: Internação e múltiplas modalidades terapêuticas (individual, grupo e familiar) geralmente são necessários para garantir abstinência.
O médico deve estabelecer uma aliança terapêutica com o paciente, para lidar com a depressão transtorno da personalidade, ou ambos, contudo, já que muitos pacientes são dependentes da droga, a psicoterapia, pode ser especialmente difícil.

Cocaína
A cocaína é uma substância que estimula fortemente o sistema nervoso central e é extraída de uma planta chamada Erytroxylon coca ou simplesmente coca. Os efeitos físicos do uso de cocaína envolvem aumento do número de batimentos do coração e da pressão arterial, aumento da temperatura corpórea e pupilas dilatadas. Em casos agudos de intoxicação, a estimulação central profunda leva a convulsões e arritmias ventriculares (o coração bate descompassadamente) e com disfunção respiratória que podem levar à morte. O uso crônico e compulsivo da cocaína leva a conseqüências psicológicas, representadas por distúrbios psiquiátricos. Depressão, ansiedade, irritabilidade, distúrbios do humor e paranóia ("nóia"; sentir-se perseguido, vigiado, etc) são as queixas de ordem psicológica mais comuns. Entre outros problemas estão agressividade, delírios (principalmente os delírios persecutórios, onde a pessoa acredita que os outros estão tramando contra ela ou falando mal, etc) e alucinações (ver ou ouvir objetos e sons inexistentes). Quando a dependência se estabelece de forma significativa há perda do interesse por tudo que não estabeleça relação com uso da droga. O usuário vive para usar a droga.

sábado, 8 de agosto de 2009

Cafeína e Fenciclidina


Cafeína
A cafeína é a substância psicoativa usada nos países ocidentais. Está presente em bebidas, alimentos, medicamentos vendidos com prescrição e medicamentos sem prescrição. A quantidade de cafeína contida nesses produtos pode se suficiente para provocar alguns sintomas. O consumo de cafeína provoca um aumento das concentrações de AMPc nos neurônios que têm receptores de adenosina. Possui a capacidade de agir como reforçador positivo, particularmente em doses menores. As doses de cafeína acima de 100mg induzem leve euforia em humanos e, em outros animais, efeitos comportamentais associados com o comportamento de busca repetida pela substância. São associadas com ansiedade e leve disforia em humanos e não agem como reforçadores positivos.
A cafeína resulta em vasoconstrição cerebral global, com uma resultante diminuição do fluxo sanguíneo cerebral. Os sintomas mais freqüentes são ansiedade, agitação psicomotora, inquietação, irritabilidade e queixas psicofisiológicas, como abalos musculares, náusea, perturbação gastrintestinal, perspiração excessiva, formigamento nos dedos das mãos e pés e insônia.
O tratamento para os transtornos relacionados à cafeína é a eliminação ou drástica redução dos produtos contendo cafeína. Analgésicos em geral são suficientes para o controle das cefaléias e dores musculares que podem acompanhar a abstinência de cafeína.

Fenciclidina
A fenciclina ou PCP é uma droga que foi desenvolvida e classificada como anestésico dissociativo. A fenciclina é vendida variadamente como pó cristalino, pasta, líquido ou papel embebecido com droga. É usada com maior freqüência como um aditivo a um cigarro contendo cannabis ou salsa.
Os indivíduos que recém consumiram PCP freqüentemente apresentam-se incomunicativos, parecem ignorar tudo à sua volta e relatam uma produção ativa de fantasias. O usuário pode ser simpático, sociável e tagarela e em um momento e em outro hostil e negativo.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Cannabis e Inalantes


Cannabis
Cannabis é o nome abreviado da planta cannabis sativa. Todas as partes da planta contém canabinóides psicoativos. A planta da cannabis geralmente é cortada secada, picada e, então, enrolada em cigarros. Os nomes mais comuns da cannabis são maconha, erva, marijuana.
A tolerância à cannabis desenvolve-se, e a dependência física foi descoberta, mas as evidências para a dependência fisiológica não são fortes. Os sintomas de abstinência em humanos limitam-se a uma ligeira irritabilidade, inquietação, insônia, anorexia e leves náuseas. Esses sintomas são vistos apenas quando ocorre uma interrupção súbita do consumo de altas doses da cannabis.
Quando fumada os efeitos euforizantes da cannabis aparecem em minutos, alcançam um pico de 30 minutos e duram de duas a quatro horas.
Os efeitos mais comuns da cannabis envolvem a dilatação dos vasos sanguíneos das conjuntivas (olhos vermelhos) e leve taquicardia, boca seca também é efeito comum da intoxicação com cannabis.
O tratamento do uso de cannabis repousa sobre os mesmos princípios de tratamento de transtornos relacionados a outras substâncias de abuso – abstinência e apoio.

Inalantes
Inclui as síndromes psiquiátricas resultantes do uso de solventes, colas adesivos, etc. Exemplos específicos dessas substâncias incluem gasolina, removedor de verniz, cola de aviões, etc. Foi relatado um ressurgimento da popularidade dos inalantes entre os jovens. O uso de inalantes entre adolescentes pode ser mais comum naqueles que têm pais ou irmãos mais velhos que usam substâncias ilegais. O uso de inalantes durante um longo período pode gerar uma dependência e abuso. O estado de intoxicação freqüentemente caracteriza-se por apatia, funcionamento social e ocupacional diminuído, julgamento comprometido e comportamento impulsivo ou agressivo, a pessoa pode posteriormente apresentar amnésia para o período de intoxicação.
Principais transtornos mentais relacionados à intoxicação por inalantes:
- Delírio por intoxicação;
- Demência persistente;
- Transtorno psicótico;
- Transtorno do humor e ansiedade
Os sintomas psicológicos de altas doses da substância incluem um estado de medo, ilusões sensoriais, alucinações visuais e auditivas e distorções do tamanho corporal.

domingo, 2 de agosto de 2009

Sedativos, Hipnóticos e Opióides


Sedativos, Hipnóticos

Os sedativos são drogas que reduzem a tensão subjetiva e induzem tranqüilidade mental. Sedativo significa redução a ansiedade e é sinônimo de “ansiolítico”. Os Hipnóticos são drogas usadas para a indução do sono. A diferenciação entre ansiolíticos e sedativos como drogas diurnas e hipnóticos como drogas noturnas não é acurada.

As principais indicações não–psiquiátricas para essas drogas são como antiepiléticos, relaxantes musculares, anestésicos e coadjuvantes, todas as drogas desta classe e o álcool têm tolerância cruzada e efeitos de somação. A dependência física e psicológica desenvolve-se para todas as drogas, e todos estão associados com sintomas de abstinência.

Os benzodiazepinicos são usados primariamente como ansiolíticos, hipnóticos, antiepiléticos e anestésicos e para a abstinência de álcool. Eles são abusados sozinhos, mas os abusadores de cocaína freqüentemente os utilizam para reduzirem os sintomas de abstinência e os abusadores de opiáceos e opióides usam benzodiazepínicos para aumentarem os efeitos euforizantes dos opióides e opiáceos.

Opióides

Opióide é uma substância qualquer, sintética ou não, com ação semelhante à do ópio. O ópio contém propriedades narcóticos, que é uma droga que paralisa as funções do cérebro, isto é, produz sono e alivia a dor.

Os opióides e opiáceos (que são compostos derivado do ópio), estão associados com a morbidade e mortalidade do paciente, além disso também associa-se a transmissão do vírus HIV, por serem usados por vis intravenosa, eles também podem ser consumidos oralmente e inalados ou injetados subcutaneamente.

Os usuários dessas substâncias apresentam comportamentos conhecidos por síndrome comportamental da heroína e consistem de depressão subjacente, freqüentemente do tipo agitado e acompanhada por sintomas de ansiedade, impulsividade expressada por uma orientação passivo agressiva, medo do fracasso, uso da heroína como um agente anti-ansiedade para mascarar sentimentos de baixa auto estima, falta de esperanças e agressão.

Cerca de 90% dos indivíduos com dependência de opióides têm um diagnóstico psiquiátrico adicional. Os diagnósticos psiquiátricos co-morbidos mais comuns são transtorno depressivo maior, transtornos relacionados ao álcool, transtorno da personalidade anti-social e transtorno da ansiedade. Cerca de 15% dos indivíduos com dependência de opióide cometem suicídio.

A abstinência de opióides consiste em severas câimbras musculares e dores ósseas, profundas diarréias, cólicas abdominais, rinorréia, lacrimejamento, bocejos, febre, dilatação das pupilas, hipertensão, taquicardia e desregulagem da temperatura, incluindo hipotermia e hipertermia.

O tratamento é feito com conscientização e troca de agulhas, usando narcóticos sintéticos que substituam a heroína e que libertam a pessoa com dependência da heroína injetável, desta forma, reduzindo as chances de transmissão do HIV pelo uso de agulhas contaminadas; com substitutos e antagonistas de opióides; com psicoterapias e comunidades terapêuticas.